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sexta-feira, 4 de março de 2022

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Eletrobrás – Privatizações

Telebrás, 1998, Luis Nassif (2012) e as privatizações do setor elétrico na Inglaterra, Noruega, Chile e Argentina. Agora a Eletrobrás. Onde isso pode parar?
Em 1998, quando a Telebrás foi privatizada (em meio a um escândalo e suas consequências), havia 7,4 milhões de celulares ativos no Brasil para uma população de 170 milhões. Isso dava a média de um celular para cada 23 habitantes, 01 aparelho/23hab.
Agora em 2017, o número está em cerca de 243,5 milhões de aparelhos para 208 milhões de habitantes. Ou seja, já temos mais do que um celular por pessoa, cerca de 1,2 aparelhos/habitante. Sem falar do acesso à banda larga e internet, que era muito mais precário.
Sou da época em que celular era objeto de luxo e uma nova linha telefônica fixa demorava até 24 meses para ser instalada. O preço da linha era tão alto que você devia declarar como “bem” no Imposto de Renda, junto com seu carro e sua casa. Algumas pessoas possuíam diversas linhas e faturavam muito com aluguéis, compra e venda. E o mercado negro de linhas era muito comum, servindo para o enriquecimento de agiotas.
Hoje, o desafio é a qualidade da prestação de serviço pelas empresas sob a regulação da Anatel, primeira agência reguladora do Brasil. Apesar de minhas dores de cabeça com as prestadoras, minhas reclamações são resolvidas de alguma forma. Ou escolho outra empresa de telefonia.
Agora vamos ver o que vem por aí com a privatização da Eletrobrás, algo bem complexo. Porém, nos últimos 15 anos esta Estatal já soma quase 190 Bilhões de prejuízos, acentuados a partir de 2011 com uma política energética equivocada. Dentre os problemas, a redução artificial e populista de preços (que já voltamos a pagar a aventura), a insana construção da usina de Belo Monte, reinvestimentos na energia suja de Angra 3, foram algumas contas das (in)decisões sob Dilma Roussef. Sem falar ainda dos esquemas de corrupção que vieram na esteira para beneficiar empreiteiras e inchar de apaniguados a máquina pública.
Sinceramente, vejo com boas perspectivas essa decisão, apesar de vir do Temer e seus cúmplices. A ineficiência energética do Brasil sofre, desde o apagão de 2001/2002, de soluções inovadoras.
Sobre as privatizações do setor energético, Luis Nassif (2012), fez um artigo bem interessante sobre as privatizações do setor elétrico na Inglaterra, Noruega, Chile e Argentina. O link para o artigo está aqui, http://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/a-privatizacao-do-setor-eletrico-na-inglaterra e o link para a tese de mestrado de Rodrigo Theotonio, “Princípios de análise da reforma do setor elétrico: um estudo comparativo”, citada por Nassif, pode ser acessado aqui: https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/81251/PEPS0954-D.pdf?sequence=1&isAllowed=y
Espero que avancemos em direção a uma matriz energética eficiente, limpa e democrática. O futuro dirá.

terça-feira, 18 de julho de 2017

Captação de recursos: olhando para a terceira idade com outros olhos

Crise? Assim como as empresas, as organizações filantrópicas e do Terceiro Setor buscam garantir que suas ações e marketing social estejam usando os melhores métodos e aplicando soluções para atrair e manter seu público e dar continuidade à sua missão. Ser eficaz e eficiente é um desafio diário e saber procurar novos recursos é estratégico.
O que muitos ainda estão negligenciando é o crescente uso de meios eletrônicos por parte de uma geração que está cada vez mais conectada: os “Baby Boomers”. Esta é a designação dos nascidos após a Segunda Guerra (entre 1945-1965), compreendendo pessoas que hoje estão ou se aproximam da terceira idade. Contrariando o senso comum, este grupo já colocou na mesa de seu café-com-pantufas novos suplementos, substituindo o jornal impresso: celulares, computadores e tablets. O uso de eletrônicos dentro desta faixa tem crescido no Reino Unido a uma taxa de 11% ao ano e mais de um quarto das pessoas acima de 75 anos já possui ao menos um destes dispositivos. De acordo com a Ofcom, a Agência Reguladora das Comunicações no Reino Unido, metade dos Baby Boomers já estão online e usam, de alguma forma, as redes sociais.
Isto aponta para um grupo de usuários e potenciais investidores: a terceira idade. O vovô e a vovó, definitivamente, estão curtindo o que seus filhos e netos andam fazendo. Mais ainda, querem participar. Composto por pessoas que já conquistaram suas necessidades básicas, hoje estão cada vez mais interessados em dar novos significados e propósito às suas existências. O engajamento social por meio das mídias se estabelece como uma oportunidade de investimento, nova ocupação (fora pantufas!) e realização pessoal, pois contém um componente de pertencimento em rede que realmente faz diferença, conecta e motiva.
Maturidade e expectativa de vida
Conforme a Associação de Docentes da Unicamp – ADunicamp, a expectativa de vida dos brasileiros é de 75 anos e nas regiões Sul e Sudeste a média sobe para 80 anos de idade, muito próxima da do Canadá (82 anos). Mas não é apenas a questão da idade, mas do prazer de viver e poder realizar seus sonhos, muitas vezes interrompidos em nome da necessidade. A visão cada vez mais positiva em relação à velhice tem proporcionado, além da melhora da saúde, muito mais disposição para poder participar da sociedade após a aposentadoria. Neste sentido, as limitações naturais da idade fazem com que os vovôs e vovós cheios de experiência e boas ideias possam buscar nas mídias sociais a ferramenta para continuarem ativos e com significância.
Resta às organizações do Terceiro Setor perceberem que a terceira idade não deseja apenas ser vista como aposentados ou alvo de projetos. Além do voluntariado ou parcerias em comum com outros grupos, eles desejam participar cada vez mais de empresas e associações.
Maturidade e Sabedoria
O desafio está em oportunizar novos meios e linguagens para conquistar seu apoio e, principalmente, seu capital de conhecimento com maturidade. Como disse Jairo Martins, Presidente Executivo da FNQ – Fundação Nacional da Qualidade, ao completar o caminho de Santigo de Compostela após uma jornada de 827 km aos 65 anos de idade:
– No auge dos meus 65 anos, lancei-me a um desafio. Digo auge, pois na idade em que me encontro, não me classifico como um senhor da terceira idade, assim como ditam as estatísticas. Uso as sábias palavras de uma experiente jornalista, de que hoje me considero um talento maduro, com ricas experiências a serem transmitidas. (…) Refleti o quanto os brasileiros têm sofrido em relação à crise, buscando reduzir custos e criar novas oportunidades. A crise faz você rever seus processos. 
Apenas a maturidade consegue transformar o conhecimento em sabedoria.

terça-feira, 13 de junho de 2017

O Terceiro Setor, desafios e novos caminhos
O Terceiro Setor é a segunda maior rede de proteção social básica do Brasil, perdendo apenas para o Estado. Sabe-se que para cada Real de isenção tributária conquistado pelas entidades, as mesmas retornam seis vezes mais em termos de serviços e atendimento gratuito para a sociedade, nas áreas de Assistência Social, Educação e Saúde. Isso mesmo: de acordo com o Fórum Nacional das Instituições Filantrópicas – FONIF –, usando informações divulgadas pelo próprio Governo, para cada R$1,00 de isenção concedido são devolvidos em média R$6,00. Esta proporção pró-entidades deveria pacificar o entendimento em relação à importância estratégica deste setor. Mas não é isso que acontece.
Associações e Fundações seguidamente encontram-se sob suspeita e são alvo de diligências governamentais. Apesar de seu trabalho estratégico, sofrem com ameaças e fiscalizações muitas vezes arbitrárias e casuísticas, ameaçando a perda da desoneração tributária, mesmo que as mesmas estejam atuando para suprir as lacunas deixadas pelo próprio setor público.
O grande desafio - inovação
Alguns fatores contribuem significativamente para as dificuldades do Terceiro Setor, como as defasagens de desempenho, sustentabilidade e regulamentação que embaraçam seu sucesso ou a relevância de suas ações.
Na defensiva, o Terceiro Setor normalmente aponta a causa de seus problemas para o governo e a falta de visão dos empresários que não possuiriam visão para investir. Assim, acabou desenvolvendo uma autopercepção distorcida e vitimista, colocando-se muitas vezes como um “patinho feio” na sociedade. Mas a ausência de autocrítica e do reconhecimento de problemas internos que precisam ser superados está na raiz de suas dificuldades. As Associações necessitam de uma revolução em termos de inovação social para vencer algumas defasagens históricas.
Mais do que equipamentos, processos ou novas tecnologias, inovar é ousar fazer as coisas certas de forma correta, rompendo a lógica dominante do jeitinho, do amadorismo ou da importação de modelos sem as devidas considerações locais. Ter uma boa causa não é suficiente.  É preciso ser eficaz e saber comunicar isso aos parceiros com transparência.
A solução - compliance
O fator urgente de inovação é o estabelecimento de uma cultura de Compliance, ou de conformidade com leis, normas, políticas internas e intersetoriais. Esta ação já foi testada e consagrada em governos, empresas e instituições que hoje são respeitados globalmente e considerados referenciais em seus respectivos segmentos. A integridade como fator de inovação está em poder agregar valor aos produtos e serviços ofertados, com honestidade. Isso fará com que tanto o governo quanto o setor privado mudem suas percepções para com o Terceiro Setor, mais do que qualquer relatório ou campanhas de marketing bem produzidos.
A ética aliada à eficácia tornou-se um fator crítico de sucesso. Onde antes um bom “padrinho” era tido como um recurso estratégico, hoje o compromisso dos dirigentes com valores corretos, o estabelecimento de controles internos e uma governança social integrada elevam suas organizações para níveis de desempenho competitivos, trazendo sustentabilidade com credibilidade. Esta combinação gera recursos através de parcerias fortes, pois em vez de se concentrarem apenas na possibilidade de retorno financeiro, os investidores também passam a considerar os impactos sociais e ambientais que o seus investimentos poderão criar. 
A lógica dominante com seus pressupostos, armadilhas e medos, conforme afirma o Consultor Chefe de Inovação da General Eletric, Vijay Govindarajan, deve ser questionada para que a inovação ética também seja alcançada. O caminho começa pela revisão de onde as instituições mais correm riscos: em seu modelo de gestão.
A construção da cidadania com ética é a melhor defesa de direitos possível, seja para as pessoas ou para o meio ambiente. E a rede do Terceiro Setor é diretamente responsável por isso.

terça-feira, 23 de maio de 2017

Tijolos
Em cada momento,
Você escolhe amar ou odiar.
Você escolhe perdoar ou ressentir.
Você escolhe pacificar ou guerrear.
Você escolhe a verdade ou o engano.
Você escolhe comer ou renunciar.
Você escolhe acumular ou dividir.
Você escolhe abraçar ou empurrar.
Você escolhe a justiça ou a iniquidade.
Você escolhe a misericórdia ou a sentença.
Você escolhe a tolerância ou a discriminação.
Você escolhe entre cuidar ou abusar.
Você escolhe a gentileza ou a agressão.
Você escolhe ser ou ter.
Você escolhe sempre
Entre dois caminhos.
Cada escolha é um tijolo
Que edifica a tua alma
E os teus olhos
São a
Janela.

terça-feira, 2 de maio de 2017

Greve enquanto houver governo

I
Com licença, mas já vou dizendo que sou um vagabundo e marginal: eu apoio o direito de fazer greve, eu apoio greves. Vivo na periferia das ideias alheias, como um marginal do pensamento.
Igualmente discordo da ação de piquetes, bloqueios e qualquer outra forma de cercear a liberdade de ir e vir. Já fiz isso em outros tempos, confesso, mas mudei de perspectiva. Descobri alternativas. Não gosto da força ou da violência física ou verbal como argumento. Mas isso também me coloca na margem de outros que desejam impor sua greve sem se importar com direitos alheios.
Se nem o amor deve ser imposto, imagina o resto. Venha em liberdade, fique à vontade, saia quando desejar. É válida a lei da semeadura, colhemos o que plantamos.
É uma visão a partir de um ponto e, como existem muitos outros pontos em nossa matriz social, posso dizer apenas que é diferente. Não ouso dizer que esteja certa, isso soaria arrogância diante de quem pensa diferente por um simples motivo: eu teria que assumir que eles estão errados. Sinceramente, cansei de ficar pretendendo ser juiz de ideias alheias, ou de tentar convencer alguém fazendo piquetes retóricos.
Mais do que a liberdade de ir e vir tenho gostado da liberdade de aceitar e, se convidado, ficar. Que loucura essa, tentar habitar a realidade do próximo sem ser um invasor!
II
Há alguns anos conheci o José. Ele coleta lixo reciclável aqui no bairro. Quase toda semana conversamos um pouco e fui acompanhando suas fases até a sobriedade atual. Teve uma vez que ele quebrou um pé, mas toda semana ele aparecia, mancando e puxando seu carrinho. Isso deixou sequelas, pois até hoje ele arrasta aquela perna.
Sua conversa é sempre animada, olha pra mim com um sorriso e já vai gritando, .... e daí, gente booooaaa..., com sua voz que é muito parecida com a daquele cantor-comediante brega, o Falcão das roupas extravagantes e girassol na lapela. O óculos escuro só reforça o estilo. É claro que eu o chamo de Falcão, e ele ri o tempo todo. Mesmo quando sai de mãos abanando, dizendo, “ - fica pra próooooxima! Suas palavras finais sempre arrastam como sua perna.
Geralmente nosso papo gira rapidamente sobre as dificuldades do dia. Minha vizinha da frente, caridosa, quase sempre dá pra ele uma boa comida. Mas hoje estiquei o papo e arrisquei:
- Zé, me diz, o que é que você está achando da greve?
Ele me olhou, pensou um pouquinho e respondeu:
- Não faz a mínima diferença. Eu “tô fudido” de qualquer jeito. Eles tão no direito deles, mas eu preciso trabalhar. Meu único compromisso é tirar um dinheiro pra viver e pagar os 70 contos de aluguel, toda semana, do meu barraco.
Fiquei com cara de idiota, eu acho, enquanto fazia as contas; ele precisa tirar em média dez Reais por dia só para o aluguel. Ele deve ter percebido minha cara e num gesto de “não se sinta culpado”, sei lá, apoiou sua mão de leve no meu ombro esquerdo. Eu tentava encarnar em seu mundo, ele tentava me consolar do meu.
Resolvi arriscar uma segunda pergunta. Outras surpresas desagradáveis estavam por vir, mas eu não sabia. Seu carrinho estava vazio, mas sua carga era muito grande. Comecei a entender porque ele sempre andava no mesmo passo, independente do volume que puxava.
III
Posso tirar uma foto? - Claaaarooo! Nossa, fiquei bonito, disse quando viu.
Então, posso fazer outra pergunta?

quarta-feira, 19 de abril de 2017

O verdadeiro poder é poder servir


Por volta de 930 a.C. os filósofos chineses da Dinastia Zhou introduziram a doutrina do “mandato do céu” para explicar por que Zhou teve o direito de remover o poder do regime anterior, declarando que o Imperador estava correto em suas ações, pois possuía um missão divina: ouvir e servir seu povo. Porém, um imperador injusto poderia ser deposto até mesmo por uma revolta ou golpe.
O conceito ‘pegou’ e se disseminou através dos séculos. Na Europa surgiu como o conceito de ‘direito divino’ do rei ou imperador: o culto a Cesar (Império Romano), o Rei-Sol (Luís XIV na França Medieval), são exemplos históricos. Com uma diferença: o rei ou imperador era a divindade incontestável em suas ações, acima de qualquer poder temporal, mesmo agindo de forma arrogante, patriarcal e despótica. Qualquer contestação ao seu poder era uma revolta contra o próprio Deus.
Nas religiões os deuses não devem ser contestados, assim como seus representantes na Terra. Sua ira ou vontade necessita ser acalmada através de sistemas sacrificiais muitas vezes cruéis e sem sentido, mas sob controle de uma classe sacerdotal aliada ao poder temporal. Pagar pedágio para os sacerdotes era (ainda é?) uma imposição para manter o poder.
No Ocidente, Constantino desenvolveu o conceito católico do Papado a partir desses princípios. Os Califados árabes surgiram com as mesmas prerrogativas, ambos perdurando até hoje. A Reforma Protestante (500 anos em outubro!) não mudou muita coisa. Houve uma reforma teológica, mas que passou ao largo da necessária reforma eclesial. Ela fragmentou o poder religioso central, mas favoreceu o surgimento de diversos feudos religiosos com seus papinhas. Resumidamente, a Reforma apenas disse que o líder deveria ser ‘um servo de Deus’, conforme os ritos da própria instituição que o ‘consagrava’.
No Brasil, cerca de três mil anos depois do Imperador  Zhou, outros imperadores e reis na forma de líderes políticos e religiosos continuam seguindo os mesmos princípios. O discurso Republicano é apenas isso – um discurso com aparência de democracia. Na verdade a autoridade jamais admite ser contestada, pois todos se acham chamados não pelo desafio de servir, mas pelo desejo do poder. O poder econômico, político, jurídico e religioso continua sendo a motivação de falsos líderes, que se embaralham de maneira promíscua para defenderem seus próprios interesses.
As castas do poder queimam o mesmo incenso diante do mesmo altar.  Assumem que seu mandato é um chamado divino, incorporando a figura do ‘messias’ ou ‘salvador da pátria’.  Declaram guerra contra a pobreza, contra o analfabetismo, contra a corrupção, contra a inflação, contra o déficit público, contra a fome, dentro de um imaginário medieval: cruzadas contra o mal que nada mais é do que a incompetência de governantes ou sacerdotes anteriores que fizeram diferente. Desprezam a história e seus conselheiros. Justificam suas facções. Toleram outros males “por um bem maior”. Rezam sua doutrina ideológica sobre palanques e púlpitos. Exploram e usam seu povo.
Na verdade, tornaram-se marionetes do mal e de suas próprias vaidades, engordando seu ego com amigos profissionais e igualmente interesseiros. Dizem que sua maior “virtude” é não ouvir as pessoas que não pensam como eles. Alegram-se queimando seus adversários no altar e excomungando seus opositores.
O caminho para sair desta situação? Existem várias possibilidades, mas uma é fundamental e bem conhecida: o serviço ao próximo como missão pública.
O verdadeiro poder é poder servir.

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Plug&Play

Numa época onde filhos e pessoas são cada vez mais transformados em 'devices', em equipamentos que operam conforme determinados softwares-programas, porque reclamar das mídias e meios de comunicação?


As empresas da área elaboram há tempos sua "grade de programação", pro-gra-ma-ção! Pergunta pra qualquer candidato a nerd o que é um 'programa' e ele vai rir e depois te explicar com muita pa-ci-ên-ci-a.


Os pais, líderes e educadores precisam apenas comprar os programas e aplicativos em seus devices. Depois basta fazer o download e deixar rodar em seus filhos, alunos, empregados, militantes...


Enquanto isso, na Batcaverna, empresas e governos vendem e contratam programadores comerciais e ideológicos para suas centrais de TI's-partidos. Pessoas bem bacanas, descoladas e coloridas, que trabalham sério para desenvolver programinhas maliciosos que depois vão permitir baixar conteúdo mais pesado, conforme mindsets bem feitas. Imperdível, você com certeza vai achar tudo muito maravilhoso, nem precisa pensar, já pensaram em tudo por você! Feche os olhos e simplesmente aceite.


Joga depois na Rede, consuma e download ácido! Que viagem, a realidade não importa, basta a paisagem ser fantástica!


Filhão, baixa aí, plug&play que eu vou ali cuidar da minha vida. Qualquer coisa eu culpo a Rede Globo ou o governo.

terça-feira, 28 de março de 2017

Post hoc ergo, propter hoc

Mentoris - Gustavo Brandão

Há algum tempo conversava com uma jovem, que vivia uma imensa dor. Seu pai acabara de falecer. Na noite anterior haviam discutido e ela fora dormir com as últimas palavras ditas para ele, “-quero que você suma da minha vida!”
No dia seguinte ele seguiu para o trabalho bem cedo, como de costume. No caminho um bêbado avançou o sinal e atingiu seu carro, matando-o na hora. Agora ela desabafava. Cada lembrança de seu pai era agora consumida por suas últimas palavras, ditas num momento de raiva e frustração. 
Além da dor e do luto, a culpa a dominava.
“Depois disso, portando por causa disso”,...  ela imaginava que seu desejo havia sentenciado seu pai.
“Depois disso, portando por causa disso”, presumimos muitas vezes.
Existe uma lógica falaciosa por conta de eventos que ocorrem sequencialmente que muitas vezes nos aprisionam e nos fazem sofrer, sermos injustos ou mesmo cair em ilusões. Tendemos a imaginar que se algo acontece logo após certo evento, numa linha do tempo, a causa do segundo foi necessariamente o primeiro. Damos o nome de ‘correlação coincidente’ a este raciocínio, muitas vezes ardiloso.
O erro pode estar em desconsiderar outros fatores no desejo de encontrar rapidamente explicações ou responsáveis por determinada situação ter acontecido ou não. Se feito de maneira errada, o resultado poderá trazer falsos sentimentos (bons ou ruins) e não amadureceremos em nossa jornada. Ou iremos responsabilizar levianamente alguém ou alguma coisa. Ou ainda, satisfará um desejo oculto de nosso coração que nem sempre condiz com a verdade, porém, satisfaz nossos padrões de pensamento.
Por exemplo, numa demanda trabalhista o trabalhador culpa a empresa por sua saúde ter-se deteriorado depois que ele começou a trabalhar, desejando estabelecer um nexo causal. Porém, uma análise ou investigação pode apontar outros fatores em outras áreas da vida do profissional, que nada tinham a ver com o ambiente de trabalho, mas que podem ter levado aos seus problemas de saúde.
Nossas experiências passadas muitas vezes são alinhadas com eventos do presente e tendemos a raciocinar apenas numa relação de curto espaço de tempo de “causa-efeito.” Se fui traído por um determinado profissional ou pessoa, posso ser tentado a afirmar que ‘nenhum deles presta’ e assim passar a viver com uma premissa que vai me levar a um medo genérico ou preconceito em relação àquela profissão ou pessoa. Posso até acabar sabotando minhas relações presentes para poder dizer ao final, melancolicamente, algo como “eu já sabia”, reforçando ciclicamente minhas crenças.
Na vida e em nossas Redes somos pessoas com boas e más experiências, com diferentes bagagens. Buscamos construir um coletivo onde as oportunidades de cooperação e colaboração são o desejo de todos. Eventualmente, trazemos nossos aprendizados pessoais como contribuição para poder avançar em determinados assuntos ou para alertar sobre situações e contextos já vivenciados. Em todas as situações, o diálogo deve nos orientar.
Somos uma unidade orgânica e sistêmica. Isso quer dizer que temos uma alta complexidade no que diz respeito às expectativas, desejos, sonhos, tecitura de projetos, parcerias e mesmo amizades e relacionamentos. Acima de todas as coisas, formamos um ambiente de aprendizagem continuada, de troca e de contribuições, com humildade e respeito. Damos inclusive o direito do outro não ser como eu sou, dentro dos limites éticos que devem nortear nossa caminhada.
Com isso, em primeiro lugar acolhemos o outro buscando seguir o exemplo universal do Mestre. É na caminhada que conhecemos as pessoas e é no caminho que discípulos tornam-se mestres.
Em tempo: aquela jovem com quem conversava entendeu que a vida muitas vezes é assim, inexplicavelmente trágica e imprecisa. O amor de seu pai estava muito além daquele desentendimento.
Coisas ruins e boas acontecem com pessoas boas e ruins. O controle é uma ilusão, o determinismo é uma armadilha. Coisas ruins acontecem, mas não significam que tenhamos responsabilidade nem definem quem somos. Da mesma forma, quando acontecem coisas boas precisamos igualmente colocar tudo em perspectiva.

A jovem conseguiu se perdoar, entender e descansar nas boas lembranças e nas oportunidades que teve de compartilhar do amor de seu pai. Prosseguiu seu caminho em paz.
A vida não é uma linha reta, viver não é preciso.

sexta-feira, 10 de março de 2017

Trabalho, vocação e aposentadoria.
Mentoris - Gustavo Brandão
Enquanto nosso paradigma e modelo de trabalho derivar do conceito de “maldição”, fruto de uma interpretação teológica equivocada da tradição cristã, o teremos como sendo o cumprimento de uma pena: o homem foi ‘condenado’ a trabalhar.
Assim, no imaginário popular o que se puder fazer para burlar esta sentença, será feito. Até mesmo dar ‘jeitinhos’, pagar santos ou políticos ou empreiteiros ou religiosos e suas mandingas pra ‘facilitar’ as coisas neste plano existencial ou em outro, trocando promessas por favores. Esta cultura de toma-lá-dá-cá é a base da corrupção. Nesse contexto, o trabalho é coisa para otários.
Porém a verdadeira maldição não é o trabalho em si, mas o trabalho sem propósito ou com o desígnio errado. O propósito correto e transcendente é chamado de vocação, ou “beruf”, nas palavras de Max Weber em sua obra ‘A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo’. Desta forma, o exercício de uma vocação é muito mais do que uma profissão ou ocupação, mas exatamente o trabalho revestido de significado.
Por mais importante que seja, não é o trabalho que dignifica o homem. Apenas o homem livre pode dar significado e dignidade ao que faz, seja lá o que for. Isso não é tarefa do patrão nem do governo. Quem transfere a dignidade do que faz a um diploma, um cargo ou a algum condicionamento cultural torna-se escravo do fazer para ter alguma coisa, desde bens materiais até reconhecimento de algum grupo.
À igreja, pensando em nossa sociedade ocidental cristã, interessa muitas vezes passar o conceito de ‘maldição’ com um objetivo apenas: a de pretender redimir o homem fazendo-o contribuir com o suor de seu rosto para alcançar o lar celestial e domesticar ao mesmo tempo o ser social. Desta forma, os tributos ou indulgências eclesiásticos visam sustentar a máquina religiosa em troca da salvação ou pacificação do espírito do contribuinte duplo: do estado e da igreja. Eles sempre cooperam para objetivos comuns.
Dentro do contexto histórico, muitas coisas permitiram que as sociedades modificassem a essência de suas relações, sendo que o fim dos laços de solidariedade que determinavam o equilíbrio entre as diversas formas sociais foram sendo desfeitos e favorecendo, insidiosamente, grupos que se viram amparados por ideologias e, consequentemente, suas teorias econômicas. Assim o conceito de homem e de sociedade migrou do homem cordial para o de homem econômico. Isso trouxe consequências.
O ser humano é um ser social antes de ser econômico, por mais que se tente medir o ser pelo ter. Durante boa parte de sua existência a humanidade procurou viver em sociedade, fazendo das relações humanas a base de todas as coisas – inclusive dos conflitos e da busca de soluções para as tensões existenciais de sempre. Os arranjos aconteciam buscando resguardar a integridade das diversas culturas, cada uma mantendo suas características em maior ou menor escala. Quando os aspectos culturais eram destruídos, isso era devido a um conflito aberto, dramático, na típica relação de conquistadores para conquistados.
Insidiosamente, entretanto, novas formas de relações sociais foram tomando conta dos grupos, povos e sociedades. Novas atitudes, novas práticas comerciais, novas ideologias, novas teologias, foram construindo a complexa rede de relações que transformaram o homem cordial em um ser moldado e regulado basicamente pelo Mercado, enquanto sistema econômico moderno. Uma nova visão de mundo aconteceu e passou a controlar e determinar as ações e relações humanas (Karl Polanyi, “A Grande Transformação: as origens da nossa época.” 1944).

Destas novas relações surgiram três grandes mercadorias: o trabalho, terra e dinheiro.

A base de uma economia de mercado é um sistema econômico controlado, regulado e dirigido apenas por mercados. A ordem de produção e distribuição de bens é confiada a esse mecanismo autorregulável. Autorregulação significa que toda produção é para a venda no mercado. O que está à venda?
“Todos os rendimentos derivam de tais vendas. Por conseguinte, há mercado para todos os componentes da indústria, não apenas para os bens (sempre incluindo serviços), mas também para o trabalho, a terra e o dinheiro, sendo seus preços chamados respectivamente, preços de mercadorias, salários, aluguel e juros. Os próprios termos indicam que os preços formam rendas: juro é o preço para o uso do dinheiro e constitui a renda daqueles que estão à disposição de fornecê-lo. Aluguel é o preço para o uso da terra e constitui a renda daqueles que a fornecem. Salários são os preços para o uso da força de trabalho, que constitui a renda daqueles que a vendem.” (Polanyi)
Isso trouxe sérias consequências para as relações humanas, que passaram a ser cada vez mais utilitaristas, frias e precificadas. O homem tornou-se cada vez mais apenas um objeto empregado para gerar dinheiro para o governo e outros homens que exploram seu tempo.
Quem trabalha apenas trocando seu tempo por salário é realmente um maldito empregado. E todo amaldiçoado é um escravo.
Lembro bem quando surgiram os computadores: agora as pessoas poderão fazer mais rapidamente seu trabalho, podendo ter mais tempo para si, diziam. Porém, a velocidade para obtenção de resultados financeiros foi o que passou a determinar a produção. O que se produzia em uma semana passou a ser produzido em um dia e a pressão só aumentou. Para que?
Por outro lado, quem exerce uma vocação é livre para dar a dimensão e o propósito que desejar para sua vida e para o que faz, seja lá o que for. Uma vida mais simples, com qualidade, sem ser definida pelo ter mas sendo senhora de seu tempo e de sua produção.
Somente quem é livre consegue estabelecer os limites que separam a sua vocação da escravidão. O conceito de ‘aposentadoria’ está atrelado a uma qualidade de vida de “merecido descanso.” Mas se a vida é com qualidade antes, para que se desejar um depois, quando o corpo e a saúde já não permitem a mobilidade de outrora?
Sacrificamos a juventude, o tempo, a saúde, ...,  para conquistar bens para usufruir quando não tivermos mais juventude, saúde e tempo. Não tem sentido, é a mentira do mercado nos bancos escolares para servir os deuses que queimam gerações em suas máquinas de guerra e exploração.
Percebe-se com isso que a discussão da 'aposentadoria' nada mais é do que a discussão entre os senhores do mercado e seus escravos. E escravo, todos sabem, não tem poder de decisão, apenas de revolta.
Dizem que um novo mundo, um novo ser, uma nova vida seja possível.
Acredito que sim, mas você saberia como?